A desmaterialização do dinheiro: o que esperar do Real Digital – 20/07/2023

Existe um conceito muito difundido no mundo das startups e da tecnologia: os 6D’s da curva exponencial. O modelo foi proposto por Peter Diamandis, co-fundador da Singularity University, uma universidade interdisciplinar cuja missão é formar, educar e inspirar um grupo de líderes que se esforçam para entender e facilitar o desenvolvimento de tecnologias de avanço exponencial para atacar os grandes desafios da humanidade.

Os 6 Ds da curva exponencial representam a trajetória de crescimento acelerado e impacto disruptivo que muitas inovações tecnológicas seguem. Cada D representa um estágio de evolução daquela tecnologia:

  • O primeiro “D” se refere a “Digitalização”: a digitalização permite a manipulação e o armazenamento eficiente de informações, abrindo caminho para a aceleração do progresso tecnológico.
  • O segundo “D” é o “Deceptive” (Enganoso): a tecnologia ainda não é amplamente adotada e pode ser subestimada. Muitas vezes, o desempenho inicial é inferior às expectativas, o que pode levar as pessoas a duvidarem do seu potencial. É nesse momento que as melhorias rápidas e exponenciais começam a acontecer.
  • O terceiro “D” é a “Disrupção”: nessa fase, a tecnologia atinge um ponto de inflexão e começa a causar impacto significativo em várias indústrias. Ela desafia os modelos de negócio existentes, substituindo antigos produtos e serviços por soluções mais eficientes e inovadoras. A disrupção pode ocorrer em um curto período de tempo, transformando radicalmente setores inteiros.
  • O quarto “D” é a “Desmonetização”: à medida que a tecnologia continua a evoluir e se torna mais difundida, seu custo diminui significativamente. Isso a torna acessível a um número cada vez maior de pessoas e abre oportunidades para a democratização do acesso a produtos e serviços anteriormente restritos. A desmonetização permite a criação de novos mercados e o desenvolvimento de soluções inovadoras com preços mais acessíveis.
  • O quinto “D” é a “Desmaterialização”: aqui, a tecnologia se torna cada vez mais compacta e portátil, eliminando a necessidade de dispositivos físicos volumosos. Produtos e serviços são digitalizados, integrados e incorporados em soluções mais eficientes e de menor tamanho. A desmaterialização permite a convergência de várias funcionalidades em um único dispositivo, promovendo a conveniência e a mobilidade.
  • O sexto “D” é a “Democratização”: nessa fase, a tecnologia se torna amplamente acessível e disponível para a maioria das pessoas. O custo reduzido, a simplicidade de uso e a disseminação da tecnologia permitem que ela alcance um público mais amplo, criando oportunidades para a inovação descentralizada e a participação ativa das pessoas na criação e no desenvolvimento de novas soluções.

Esses 6 Ds fornecem uma estrutura para entender a trajetória de crescimento e impacto de tecnologias exponenciais. Eles mostram como as inovações tecnológicas podem evoluir rapidamente, transformando indústrias, criando novos mercados e impactando a vida das pessoas. O conhecimento desses estágios pode ajudar empresas, empreendedores e indivíduos a antecipar mudanças, se adaptar às transformações tecnológicas e identificar oportunidades para impulsionar o progresso.

Mas o que isso tem a ver com o futuro do dinheiro e com o Real Digital?

Na última semana, em São Paulo/SP, ocorreu a FebrabanTech, o maior evento de tecnologia para a indústria de serviços financeiros do país, que reuniu especialistas para debater, dentre outros temas, o potencial da transformação digital do setor para a nossa economia. O lançamento do Real Digital faz parte de uma série de iniciativas do Banco Central rumo à digitalização da economia do país, de modo que o Brasil possa acompanhar os avanços tecnológicos e esteja mais preparado para a chamada Web 3.0.

A CBDCs (Central Bank Digital Currencies), como o Real Digital, nada mais são do que uma versão virtual da moeda de um país. Além de serem utilizadas para realizar compras, elas também buscam unir os principais benefícios dos ativos e moedas digitais existentes no mercado. O intuito do Banco Central do Brasil é que o Real Digital esteja disponível para testes em 2024, e seja um complemento ao Real em espécie, auxiliando o sistema financeiro brasileiro a atingir uma série de objetivos estratégicos.


Em resumo: o que estamos vivendo, nesse momento da história, é o processo de desmaterialização acontecendo com a nossa moeda. O Real Digital tem o potencial de transformar radicalmente a forma como lidamos com o dinheiro. A desmaterialização da moeda, aliada ao conceito dos 6D’s, permite visualizar um futuro em que o acesso financeiro seja democratizado, abrindo oportunidades para inclusão e desenvolvimento econômico para uma parcela significativa da população brasileira que atualmente não possui acesso aos serviços bancários tradicionais.

À medida que avançamos em direção à desmaterialização do dinheiro, com transações digitais cada vez mais acessíveis e seguras, podemos esperar mais agilidade nas transações financeiras, menos custos e uma ampla gama de serviços financeiros disponíveis para todos. Isso não apenas impulsionará a inclusão financeira, mas também abrirá portas para a inovação descentralizada, com a participação ativa das pessoas na criação e desenvolvimento de soluções financeiras adaptadas às suas necessidades. O que eu posso dizer é: não vejo a hora de chegarmos ao último D.

*Head de Future Hacking na Compass.UOL, onde ajuda as organizações a entenderem como as tendências de consumo e as expectativas emergentes podem moldar seu futuro. Estrategista sênior, com experiência em análise de tendências, previsão estratégica e planejamento de cenários, é entusiasta da inovação aberta, das tecnologias emergentes e seu impacto potencial na sociedade e nos negócios. Formado em computação, com pós-graduações em docência e um MBA em Criatividade, Inovação e Inteligência de Mercado, possui ainda formação em Empreendedorismo em Economias Emergentes pela Harvard Business School e cursa o Mestrado em Engenharia e Gestão do Conhecimento na Universidade Federal de Santa Catarina. É professor de pós-graduação e mentor de startups e empresas emergentes.

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