Tilt – Mas o custo político para quem tomar essa decisão pode ser muito alto.
Uri Levine – Eu entendo. Mas, ao mesmo tempo, devo dizer, é preciso tomar decisões difíceis. Não é possível fazer isso em pequena escala, o sistema precisa estar disponível em todo lugar, só assim irá funcionar. Se eu fosse o prefeito de São Paulo, eu pensaria que isso pode mudar a trajetória da cidade para sempre. Isso vai me custar a reeleição? Depende de se eu vou atingir meu objetivo.
Tilt – Alguns países, como a China, estão investindo mais em ferrovias. Seria esse um jeito de vencer os engarrafamentos de vez?
Uri Levine – O que há de especial numa ferrovia? O fato de não haver outros veículos nela. Se construirmos um sistema de transporte público que ocupa de forma exclusiva metade das ruas, nem precisamos investir em infraestrutura. Ela já existe. Se quer comparar essa ideia com algo, pense num elevador, que só sobe e desce o tempo todo. Se tivermos veículos fazendo isso, esse é provavelmente o melhor jeito de transportar pessoas.
Tilt – Hoje, o Google é dono do Waze e também do seu maior concorrente, o Google Maps. Quão perigoso é uma única empresa saber tanto sobre os caminhos que usamos diariamente?
Uri Levine – A maioria das pessoas não se importa com a privacidade. Colocamos tudo sobre nossa vida no Instagram e no Facebook e não nos importamos. O Waze, obviamente, sabe onde você está. Esse é um mundo em que a privacidade não existe mais.
Tilt – Mas o sr. faz parte da indústria da tecnologia. Não é um problema recorrermos à tecnologia para tudo?
Uri Levine – Sim, problemas pequenos não devem ser solucionados pela tecnologia. Mas, para os grandes problemas, em geral, a tecnologia será muito útil, e na maioria dos usos, há um valor sendo criado.
Tilt – Atualmente, fala-se muito em reduzir as emissões de carbono. Alguns críticos dizem que os apps em que o sr. trabalhou vão no sentido contrário, oferecendo alternativas a quem anda de carro. Como o sr. vê isso?
Uri Levine – Eu diria que tanto o Waze quanto o Moovit contribuíram mais para baixar as emissões de carbono do que qualquer pessoa no planeta. No fim das contas, se eu reduzo a quantia de tempo que você passa num engarrafamento, e eu faço isso para milhões de pessoas todos os dias, então o impacto na redução de emissão de carbono é muito mais dramático que [o realizado por] qualquer ministro do transporte de qualquer país.
Tilt – Atualmente, há uma onda de desapontamento de parte do público com executivos das empresas de tecnologia, em especial os bilionários. Esperava-se que seus negócios disruptivos resolvessem questões cotidianas, mas muitos creem que eles criaram outros problemas que não existiam. Qual a opinião do sr. sobre isso?
Uri Levine – Suponhamos que tivéssemos uma máquina do tempo e fôssemos para 2008. Isso significa que você perderia seu iPhone, o WhatsApp, a Netflix, a Uber e basicamente tudo que usamos todo dia. É como se voltássemos à idade das trevas. Nós precisamos da inovação tecnológica para mudar o mundo. E, não necessariamente todas, mas a ampla maioria dessas mudanças faz do mundo um lugar melhor. Para ter inovação, precisamos de inovadores. Precisamos dessas pessoas que estão dispostas a sacrificar tudo para se aventurar em jornadas muito desafiadoras.